hedonistas

Deitamo-nos nos lençóis dos outros

Dizemos maldades requintadas

E amamos com o despudor de semi-deuses

Suámos os nossos corpos como um só

Respiramos como um só

Sofremos de prazer

Pedes-me

Peço-te

Ordenas

Obedeço

Peço-te

Concedes

Fodes-me

Vimo-nos

Rimo-nos

Sufocamos o mundo com o nosso orgasmo

E assinamos um pacto de prazer.

O Teu Sorriso

O teu sorriso é uma dança pagã. O teu sorriso é um rasto de eternidade, e as tuas mãos nos seios uma arquitectura de gregos. Faço-te gemer em sonhos e sonho que o teu deleite e a minha dor copulam numa fogueira magica.

Portinho meu lar

Porto de abrigo que não me esconde de ti. Portinho meu lar, sofá de areia. Portinho meu lar, santuário de amantes e caminhos errantes nos teus olhos doidos. Portinho meu lar...

Outono

Desta vez é Outono nos meus olhos e o meu ombro não é repouso. Não és tu. És outra qualquer. Apenas existes entre vapores de esquina e miragens de baloiços enferrujados. Somos impérios corrompidos e roídos. É Outono, volto ao jardim onde a lua caiu e os teus lábios indecentes anunciavam a madrugada, e a via láctea e tudo tudo tudo.

momentos que se perderam na areia.

momentos que se perderam na areia, ou, o elogio dos amantes.
vi as marcas que deixaste na areia
que não sendo movediça se movia
por comando mansinho da tua anca.

quando me fitas comprovas que tens sal quanto baste.
se somos um único organismo vivo, pergunto-me:

se os teus olhos me olham como eu olho o mar.

anoitece

hora de sair. visto roupa engomada por cima dos vincos que deixaste, e diluo-me numa multidão que nunca foi minha. inquietam-me os ponteiros do relógio. este tempo não é meu também. anoitece devagar. anoiteces comigo - és a ignição do luar e dos sons nocturnos. és o piano selvagem e a harmónica de blues. perdi-te na multidão. ontem amanheciamos, hoje anoitecemos. onde estás?

versos soltos

Vives e cantas dentro das minhas veias.
e os teus labios são nuvens incandescentes
que me fervem os sentidos e a carne.
e os teus seios, sorrisos de ritual pagão.

dos teus pés ao cabelo subo em escada expiral gemida.
o teu nome é um idioma que aprendo nas horas vagas.
até sermos poeira cósmica, e renascermos novamente.